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segunda-feira, 13 de outubro de 2008

OS EFEITOS DA CIRURGIA ORTOGNÁTICA NAS DIMENSÕES DAS VIAS AÉREAS SUPERIORES E A QUALIDADE DE SONO

Por: Fabiano Caetano Brites, cirurgião-dentista, Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pelo Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre – RS

Adaptado de: Turnball N, Battagel JM. The Effects of Ortyhognathic Surgery on Pharyngeal Airway Dimensions and Quality of Sleep. Journal of Orthodontics 2000; 27:235-247.


Alterações cirúrgicas na posição do esqueleto facial inevitavelmente afetam as relações entre os tecidos moles e duros do sistema estomatognático. Entretanto, aspectos que são raramente considerados são os efeitos dos movimentos esqueléticos nas vias aéreas superiores. Mudanças nas dimensões das vias aéreas têm sido demonstradas depois de reposicionamentos cirúrgicos da maxila e/ou mandíbula.

Os efeitos orofaríngeos dos avanços cirúrgicos maxilo-mandibulares têm sido levados em consideração vantajosamente no tratamento da apnéia obstrutiva do sono refratária.

A prevalência da apnéia do sono é difícil de determinar, mas um recente estudo no Reino Unido registrou 3,5% de indivíduos masculinos entre 15 e 34 anos apnéicos.Os sintomas da apnéia do sono são o ronco, acompanhado por obstrução das vias aéreas, com episódios de interrupção da respiração, resultando em interrupções do sono ou sono fragmentado, que evolui para um excessivo cansaço e/ou sono durante o dia. A situação usualmente progride, com o paciente “caindo no sono” em situações cada vez mais ativas, com relatos de aumento nos acidentes automobilísticos. A conseqüente redução na saturação do oxigênio sangüíneo pode levar à hipertensão, com complicações cardíacas e pulmonares.

Muitos fatores anatômicos e fisiológicos têm sido sugeridos como causas da apnéia do sono, causas essas multifatoriais, que na presença do sono e com decréscimo do tônus muscular levam a uma oclusão das vias aéreas superiores.

Vários estudos sugerem que existem diferenças nas estruturas cervico-faciais devidas à apnéia do sono, tais como: deficiência mandibular, retrusão bimaxilar, redução no comprimento da base craniana, aumento no terço médio da face, alongamento do palato mole, alargamento da base da língua e reposicionamento inferior do osso hióide.

É possível que a cirurgia ortognática, por alterar a anatomia do esqueleto facial, provoque mudanças no padrão do sono.

Análises cefalométricas, estatísticas e estudos do sono confirmam que após o avanço mandibular, os níveis de ruído e de saturação de oxigênio no sangue progridem para níveis similares aos indivíduos considerados normais.

Em suma, avanços mandibulares causam um significante aumento nas dimensões das vias aéreas e ainda produzem melhora no espaço retro palatino,
com mudanças no formato do palato mole. Estes efeitos tardios são provavelmente dados às mudanças posturais do palato mole, de maneira a manter a sua relação normal com o dorso da língua e com as estruturas que participam da movimentação mandibular. O espaço intermaxilar também aumenta, e a língua diminui proporcionalmente a ocupação deste espaço, quando efetivamente terá melhor função, resultando em seu posicionamento mais anterior, com o conseqüente alargamento nas vias aéreas retro linguais.

Conclui-se que, quando bem indicada por especialista, em conjunto com equipe multidisciplinar, a cirurgia ortognática é um excelente método de tratamento, como auxiliar na melhora da sintomatologia nos pacientes portadores de apnéia obstrutiva do sono refratária aos tratamentos conservadores.

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